domingo, 3 de maio de 2015

Slated - Reiniciada, Teri Terry [Opinião]




Título Original: Slated
Autoria: Teri Terry
Editora: Lápis Azul
N.º Páginas: 488


Sinopse
Kyla Davis está prestes a entrar numa nova vida. As suas memórias foram apagadas e, com elas, todo o conhecimento que tinha antes de ter sido Reiniciada. Como pena para um crime que, como tudo o resto, desconhece, tudo o que a identifica foi removido. Agora, Kyla tem à sua espera uma nova família e um novo início de vida, e a responsabilidade de cumprir tudo aquilo que esperam dela - caso contrário, as consequências poderão ser pouco agradáveis. Mas, mesmo enquanto se tenta adaptar à comunidade, Kyla começa a questionar. Há pessoas a desaparecer à sua volta e uma vigilância opressiva em que todos parecem estar apenas à espera que ela cometa o seu primeiro erro. E, algures por dentro, há memórias que lutam por surgir. Talvez ela não seja apenas a boa menina Reiniciada que todos lhe exigem que seja. 
Mas quem é, então? 


Opinião
E se o destino vos oferecesse uma segunda oportunidade? 
Se há algo de que gosto e pelo qual procuro em cada nova leitura é aquele sentimento quase sufocante e absolutamente maravilhoso de surpresa. Não há nada, literariamente falando, que se compare à enchente de felicidade perante uma obra que nos surpreende, que nos abre o apetite para a sua continuação – quando a tem –, e que nos deixe satisfeitos e, se possível, com um sorriso nos lábios. Slated é uma dessas narrativas, uma história dotada de uma premissa diferente, com uma ambiência algo única e peculiar, e um leque de personagens no mínimo intrigante. 

As segundas oportunidades não surgem com frequência. Kyla Davis bem o sabe, assim como todos os outros Reiniciados – jovens ex-terroristas a quem foi dada uma nova vida, com uma nova família e um novo futuro. Até aos vinte e um anos as liberdades são muito poucas e o controlo, além de excessivo, encontra-se em toda a parte, mas após essa etapa há a promessa de uma existência normal, comum – e é por essa independência, essa autonomia, por que todos eles anseiam. Porém, Kyla não é como todos os outros. Kyla é diferente. Kyla não se esqueceu, por completo, de quem outrora foi, e esses sonhos estranhos, essas visões que a atormentam podem ser o factor que a levará à morte – definitiva

Slated é, para mim, um livro de pormenores – a começar pela sua componente física. Adoro o formato mais pequeno e maleável muito ao estilo dos paperbacks britânicos (embora ligeiramente mais largo). Adoro a qualidade e a textura do papel. E, acima de tudo, adoro a opção estrutural da tradutora ao substituir o conhecido travessão português, no início dos diálogos, pelas aspas inglesas. 
Quanto ao seu conteúdo, confesso-me igualmente satisfeita. A premissa é, realmente,  muito boa – invulgar no seu âmago, excepcional –, e as reviravoltas que Teri Terry confere ao enredo são, no mínimo, estimulantes. No entanto, e numa perspectiva inteiramente pessoal, penso que a autora se deixou levar em demasia pela descoberta gradual da convivência comum de Kyla em detrimento de um ritmo mais acelerado e estrondoso. Para um volume inicial, introdutório até, este é um aspecto aceitável e, por isso, não foi algo que desmotivou o meu empenho na leitura, contudo, espero que nos livros que se seguem este seja um elemento narrativo evolutivo e que vise a gerar mais interacção, mais mistério e mais perigo. 

Quanto aos intervenientes desta história, Kyla é, sem dúvida, a que se destaca. A sua personalidade sofreu uma transformação tal que apagou a pessoa que foi outrora criando agora um segundo ser constantemente vigiado pelas almas que a rodeiam e pelo dispositivo que tem no pulso – o Levo, esse mesmo dispositivo, é, possivelmente, dos componentes mais espectaculares e complexos do enredo. O seu desenvolvimento e crescimento enquanto protagonista é visível, palpável, e o modo como compõe as diversas peças do puzzle que é a sua nova existência é impressionante e o impulso certo que leva o leitor a virar página, atrás de página, atrás de página. 
Relativamente a personagens secundárias, é-me muito difícil nomear uns em detrimento de outros uma vez que cada uma serviu o seu propósito e teve o seu impacto ora na sociedade regente, ora em Kyla. Todavia, é de mencionar que Terry foi exímia em algumas das personalidades, nomeadamente nas que aparentam ser uma coisa ao início para algumas páginas depois mostrarem ser alguém completamente diferente. 

Em certa medida, vejo Slated como um enredo de jogos, segredos e omissões – Terry pega numa série de temáticas políticas e morais, por entre outras, e cria desafios e obstáculos intricados que não só Kyla e os Reiniciados, como outras personagens ditas normais, têm de superar, ao mesmo tempo que levanta questões pertinentes e que visam levar o leitor a pensar. 
No seu todo, este é um livro introdutório que abre as portas para uma trilogia que se antevê excelente. Os dados estão lançados, as posições tomadas e mesmo com algumas atitudes dúbias e algo dissimuladas, dúvidas não restam de que a real acção está ainda por vir – ou assim aparenta a recta final de Slated.
Que venha Fractured

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