segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Cartas de Amor aos Mortos, Ava Dellaira [Opinião]




Título Original: Love Letters to the Dead 
Autoria: Ava Dellaira
Editora: Editorial Presença 
Colecção: Jovem Adulto, N.º 1
N.º Páginas: 380

Sinopse
Após a trágica morte da irmã mais velha, Laurel sente o mundo ruir. Com a separação dos pais, tem de viver com a tia, uma católica fervorosa que lhe impõe rígidas normas de comportamento.
Numa aula de Inglês, a professora desafia os alunos a escreverem uma carta a alguém que já morreu. Laurel dirige a primeira carta a Kurt Cobain, porque a irmã adorava esse cantor. A partir daí, sucedem-se missivas endereçadas aos seus ídolos do cinema, da música e da literatura – todos mortos.
Nas cartas, Laurel aborda facetas cativantes dos seus ídolos e partilha momentos marcantes da própria vida, dos novos amigos ao primeiro amor.


Opinião
Gosto imenso quando um livro, na sua construção, apresenta algum tipo de peculiaridade que não só visa ao enriquecimento da história em si como também ao sentimento de surpresa no leitor. Esta é uma dessas obras, em que o comum capítulo, que serve de divisão entre temáticas e acontecimentos na vida da protagonista, é substituído por cartas pessoais a figuras que já abandonaram o plano terrestre. Estas Cartas de Amor aos Mortos preenchem o romance de saudade e abandono, ao mesmo tempo que relembram a Laurel que por vezes vale a pena lutar, e vale a pena ser alguém diferente, alguém melhor, capaz de abrir o coração para o que o mundo tem a oferecer. 

Laurel sente-se vazia. A sua mãe abandonou-a. O seu pai perdeu a vontade de viver. A sua tia é a mulher mais devota a Deus que conhece e os seus amigos... os seus amigos não mais podem ser seus amigos pelo medo de que toquem no assunto de May. May, a sua irmã mais velha. May, aquela que a fez acreditar em magia e na beleza do que a rodeia. May, aquela que jurou nunca a deixar sozinha. Até que deixou. Até que partiu – para outro mundo. Agora tudo é diferente. Tudo é novo. E tudo é escuro – sufocante, impossível de suportar. 
Como tarefa escolar para a aula de Inglês é pedido aos alunos que escrevam uma carta a alguém que já morreu. Face a tragédia que assolou o universo de Laurel, esta não consegue escrever à pessoa com quem mais necessita de falar. E por isso recorre a uma série de figuras públicas que perderam a vida precocemente, ou em situações complicadas, como forma de desabafo e crescimento. Kurt Cobain, Heath Ledger, Amy Winehouse, Janis Joplin, Jim Morrison, Judy Garland... muitos e sonantes são os nomes que povoam as páginas deste romance – e cada um deles deixa uma lição difícil, que requer esforço, vontade, mas que será vital para Laurel. 

Cartas de Amor aos Mortos é uma daquelas obras que vai crescendo de intensidade, e entusiasmo, e fascínio com o recorrente avançar das páginas. Laurel encontra-se numa situação extraordinária e altamente indesejada no começo da narrativa mas, ao longo de todo o ano escolar, que verá também marcar o primeiro aniversário da morte de May, esta aprende a libertar-se e a ser a jovem que sempre foi suposto que fosse. 
Gostei bastante de todo o crescimento pessoal de Laurel assim como das várias nuances que apresenta, camufladas pela influência de uma instabilidade familiar profunda e de um forte desejo de ser aceite, de ser capaz de se perdoar. Constantemente atormentada pelo porquê de tudo isto ter acontecido, Laurel é uma daquelas protagonistas que tanto mostra fragilidade como força, e que se vê desabrochar numa flor singularmente especial. 

 Ava Dellaira não escreve caminhos fáceis à sua protagonista e embora exista um ou outro momento em que o suspense atinge proporções demasiado elevadas, em que o momento de desvendar o que se passou, o que originou o acidente, chega finalmente, Cartas de Amor aos Mortos trata-se de um enredo que, no seu todo, é pulsante e genuíno, transmitindo sempre uma mensagem de valor. 
A escrita da autora é fascinante e tantas vezes poética, tornando a voz de Laurel indiscutivelmente encantadora. O sofrimento encontra-se presente em cada página assim como o sentimento de culpa e não aceitação, mas também a alegria de amizades inesperadas e amores escritos nas estrelas tornam este romance uma carta de amor que não é só escrita aos mortos. 

Uma muito agradável surpresa, Dellaira deslumbrou-me com a sua perspicácia narrativa e conteúdo curioso. Gostei imenso das ligações entre o que aconteceu na realidade a todas estas personalidades – pormenores que demasiadas vezes desconhecia por completo – com o que se passa no mundo ‘ficcional’ de Laurel; assim como de toda a diversidade em termos de temáticas abordadas – desde a homossexualidade à extrema devoção religiosa, passando pela culpa e sofrimento face uma morte precoce, a disfunção familiar e a descoberta do primeiro amor, entre tantas outras. 


Para adquirir ou ler mais informações sobre Cartas de Amor aos Mortos, clique aqui

Sem comentários:

2009 Pedacinho Literário. All Rights Reserved.