sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

«Eu, Alex Cross» [Movie Bites]



Não. Mais uma vez, a situação repete-se: ainda não li o livro, mas...
... se tiver um terço – sequer! – do entusiasmo do filme, o melhor é deixá-lo ficar onde está. É que o que começou por ter uma premissa assaz interessante e de entretenimento puro, recheada de adrenalina pulsante e suspense constante, acabou por se transformar numa desilusão de proporções inimagináveis! A história em si, sem quaisquer devaneios pelo meio, é bastante simples, e se, primeiramente, detinha todos os ingredientes certos para «vingar» no seu género, talvez tenha sido pelas opções criativas do realizador, talvez pelo talento – questionável, tendo em conta a experiência no ramo – dos argumentistas, a verdade é que o produto final teve um resultado deveras fraco e, atrevo-me a dizer, algo aborrecido até. 


Estruturalmente, esta é uma cinematografia que não apresenta surpresas nem percalços no seu percurso. O que mostra, e isso sim, é a garra e génio de um actor que tem vindo a agradar, cada vez com maior intensidade, a um público mais diversificado – e refiro-me, claro está, a Matthew Fox. Isolando-se na persona de um maníaco sem escrúpulos, que retira prazer ao inflectir dor a terceiros, ao presenciar o sofrimento de outros, esta é uma personagem que, para ser credível, para ser sustentável, tinha, obrigatoriamente, de ter um actor, um rosto, uma voz, que lhe desse força, que se deixasse levar pela loucura e pela excentricidade do próprio Picasso. E Matthew Fox desempenhou, aqui, um papel soberbo, impecável, criando, inclusive, um certo desconforto no espectador.
Quanto aos seus co-protagonistas Alex Cross (Tyler Perry) e Thomas Kane (Edward Burns), a decepção vai, em igual medida, para ambos – e isto já para nem falar, por exemplo, da performace de Jean Reno. É que se, num lado, temos um Alex Cross demasiado contrito, desmotivado, sem grandes expressões emotivas ou vivacidade, no outro encontra-se um Thomas Kane igual a si mesmo, com muita naturalidade e pouca – ou nenhuma – espectacularidade, excelência. E ainda para mais, e isto sim não ajudou em nada, a relação tecida entre as duas personagens – e os dois actores, por consequência – surgiu imensamente forçada, com diálogos «estranhos» e afectados e gestos bruscos e sem grande sentido. 


Outro ponto a desfavor – e dos grandes! – é a realização de Rob Cohen, o que foi factor que me apanhou totalmente desprevenida. É que para quem não sabe, das mãos deste senhor saíram sucessos como xXx, The Fast and the Furious (Velocidade Furiosa) e, o meu preferido, The Skulls (Sociedade Secreta), o que quer dizer, que seria de esperar escolhas criativas arrojadas, cheias de acção e adrenalina, mas com movimentos limpos, e isso foi tudo o que não encontrei. A típica hand-held camera, ou seja, câmara de mão, propícia a ser utilizada em películas catastróficas, é aqui vista em força e, pessoalmente, em momentos escusados pois a percepção que o espectador adquire da acção corrente fica substancialmente reduzida. Sim, esta é uma técnica muito usada para implementar audácia, pressa, perigo, mas, neste caso em particular, neste filme em específico, não creio que tenha resultado. 


Findo o filme, a vontade que fica em ler o livro não é grande, confesso, pois o receio de que seja «mais do mesmo» ou simplesmente um fiasco é gigantesco, mas cresce, e isso sim, o desejo de que Matthew Fox, ou melhor, de que Picasso fosse/se tornasse uma figura de destaque e de presença obrigatória em qualquer produção futura desta série (?!). Infelizmente, não correspondeu às expectativas, mas, em todo o caso, não deixou de ser a razão, o motivo para um serão diferente. 


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