quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Imortais - Histórias de Amor para Cravar o Dente, editado por P. C. Cast



Título Original: Immortal: Love Stories with Bite
Autoria: Rachel Caine, Kristin Cast, Claudia Gray, Nancy Holder, Tanith Lee, Richelle Mead, Cynthia Leitich Smith e Rachel Vincent
Editora: 1001 Mundos
Nº. Páginas: 244
Tradução: Pedro Garcia Rosado


Sinopse:

Agora, venham comigo, está bem? 
Vamos entrar, outra vez, no reino dos imortais. Eu fiquei perturbada pela variedade e pela riqueza das histórias criadas pelas maravilhosas autoras presentes nesta antologia. É sempre um prazer visitar a Morganville de Rachel Caine e uma alegria, que já me é familiar, ser seduzida pela magia da voz e da visão únicas de Tanith Lee. Fui uma mãe orgulhosa e uma leitora satisfeita com o mundo de Kristin Cast, que me fez sorrir, em que os vampiros são criados pelas antigas Fúrias. O final da história, anterior à Guerra Civil, de Claudia Gray, pôs-me a dar vivas. "Amor de Fantasma" surpreendeu-me agradavelmente com as suas reviravoltas imaginadas por Cynthia Leitich Smith. "Lua Azul" de Richelle Mead, deixou-me sem fôlego. A visão pós-apocalíptica de Nancy Holder levou-me a uma viagem alucinante e assustadora e a sereia vampírica de Rachel Vincent foi um acrescento fixe aos mitos. 


Opinião:

Dividido em oito pequenos mas definitivamente persuasivos contos, Imortais – Histórias de Amor para Cravar o Dente é uma antologia que qualquer apaixonado pela espécie sobrenatural que recentemente tem vindo a invadir incontáveis páginas com deliciosas e sangrentas iguarias não deve, de todo, perder. Com narrativas umas mais interessantes do que outras mas todas elas bastante distintas entre si, deixo, a nível pessoal e geral, um balanço muito positivo e que, actualmente, em Portugal, permite contar com a tão aguardada estreia de várias autoras internacionalmente aclamadas pela critica, dentro do género.
Numa abordagem opinativa ligeiramente diferente da habitualmente apresentada, irei falar um pouco, e de forma resumida, sobre cada um dos contos que perfaz esta imperdível colectânea de amor vampiro e de, sem dúvida, querer cravar o dente!

Após uma introdução jovial e até divertida por parte da autora P. C. Cast, que abre assim o apetite para o que se seguirá, chega-nos Amor de Fantasma (Haunted Love), de Cynthia Leitich Smith.
Este é um conto simples sobre o poder do amor à primeira vista e, claro, das suas consequências e adversidades quando os intervenientes não são, propriamente, humanos. Passado nos tempos modernos onde o sobrenatural surge como resultado de uma morte precoce e de um intenso desejo de sobrevivência e aceitação mas com um panorama sombrio e clássico – a trama tem acção num cineteatro degradado – dando assim a sensação de antiguidade e ambiente rústico próprios da essência que caracteriza o vampiro, Amor de Fantasma trata-se de um conto que assombra os leitores na voz de um protagonista masculino e que deixa a questão: por vezes, o mal está onde menos se espera enquanto que o bem... se resguarda num coração à partida moribundo.
A escrita é suave e fluida, fazendo o leitor percorrer página atrás de página sem verdadeiramente se aperceber de o estar a fazer. Um primeiro conto interessante e que deixa em aberto todo um mundo de possibilidades narrativas diversamente explorado pelas autoras que lhe seguem.

Segue-se Da Cor do Âmbar (Amber Smoke), de Kristin Cast e que apresenta uma versão ligeiramente mais complexa do vampirismo uma vez que este surge da pura vontade e criação da mitologia romana.
Para quem estiver familiarizado com a série Casa da Noite então não irá, com certeza, sentir-se surpreendido ou desagradado com o estilo de escrita encontrado. Contudo, não restam dúvidas de que se nota uma grande diferença – e para pior – do sentido literário (quase) infantil de Kristin Cast para, por exemplo, Cynthia Smith que nos brindou com uma escrita bastante mais cuidada e alusiva a um público-alvo mais vasto.
Em termos narrativos, gostei da particularidade de ser o único a apresentar fortes alusões à cultura adolescente americana no que diz respeito à música e a séries televisivas o que possibilita ao leitor sentir uma afinidade mais actual e fincada com a história retratada. Esta tem ainda algumas situações inesperadas, reviravoltas curiosas, porém, achei tudo um pouco precipitado demais, principalmente na aceitação da protagonista face a sua nova condição.
Após uma apreciação total desta antologia, cheguei à conclusão de que Da Cor do Âmbar foi o pior conto de todos os oito.

O Morto, o Meu Pai e Eu (Dead Man Walking), foi uma surpresa incrivelmente agradável e Rachel Caine uma autora que há muito ansiava por conhecer.
Adorei este conto. A escrita é deliciosa e o enredo espectacularmente intricado e detalhado visto a componente romântica prometida nesta antologia dar aqui lugar a uma amizade incondicional. Igualmente em encenação temos uma segunda espécie do paranormal pouco explorada e que nesta trama adquire não só uma importância tremenda como deixa o desejo por descobrir mais. No entanto, o grande ponto forte é o humor sarcástico do protagonista e o tom irónico com que a história se encontra edificada, proporcionando gigantescos momentos de interacção e fraternidade entre leitor e personagens.
Fica ainda a vontade de saber mais sobre Morganville, cidade onde se passa a acção e pano de fundo de uma série juvenil com o mesmo nome.

Como quarta experiência fantástica amorosa surge Boas Maneiras (Table Manners), da autora Tanith Lee, igualmente uma estreia.
Pessoalmente, vi este conto como o que se pode chamar de “uma história bonita” onde a condição vampírica assume toda uma nova dimensão, origem e crença apresentando assim uma versão incrivelmente inteligente do conceito escolhido. Fortemente apelando à mente tanto humana como sobrenatural, esta é uma história que gostaria de ver desenvolvida numa narrativa longa.
Ao contrário de Cast, Tanith Lee soube ser perspicaz e mais abrangente no seu público-alvo ao retratar uma adolescente de dezoito anos bastante mais madura e lúcida, o que permite a um leitor adulto apreciar a narrativa de uma forma mais completa.

Depois de um conto psicológico, Richelle Mead presenteia-nos com Lua Azul (Blue Moon), que promete agradar aos apreciadores da sua série Academia de Vampiros com uma história de amor onde uma profecia alcança contornos inimagináveis.
Lucy é acolhedora na sua condição de vampiro até mesmo quando faz um esforço por impor a sua vontade e Nathan é um humano marcado a fogo pelo destino e pela escravização levada a cabo pelos sanguessugas que controlam a cidade. Este é um conto recheado de acção, adrenalina e uma infinita busca pela salvação... de ambas as espécies.
Uma história agradável, mística e profética. 

Metade da antologia depois, Nancy Holder trás à tona uma variação incrível e pós-apocalíptica de um grupo de vampiros que escolhe aterrorizar todas os habitantes de um núcleo muito próximo de cidades, com Transformação (Changed).
Aproximando-se do tipo de caos maioritariamente encontrado na ficção de terror, a autora mostra um início prometedor para, a nível pessoal, falhar no fim. Estava à espera de algo mais complexo e não tão desconectado mas, como é óbvio logo no começo da leitura, estamos perante escritoras que escrevem especialmente para jovens e, talvez por isso, haja uma “obrigação” em encontrar este tipo de final “feliz”.

Muito próximo da recta final, Rachel Vincent mostra como funciona uma mente brilhante em Voragem (Binge), um conto a não perder!
É possível descrever esta narrativa numa única palavra: genial. Dotada de um vampirismo muito próprio e captado através da energia humana, seja ela psíquica ou artística, a autora cria um conto original e extraordinário, escrito com uma beleza e magnetismo notáveis. Não são só as suas personagens que são apaixonantes mas, particularmente, as suas palavras.
Para mim, foi como que uma imensa criatividade ao rubro e, sem dúvida, dando origem a algo bastante diferente e inovador de tudo o que tive oportunidade de conhecer até agora, dentro deste género mais light da fantasia urbana.

Imortais – Histórias de Amor para Cravar o Dente termina com Livre (Free), da conhecida autora da série Evernight, Claudia Gray, numa história submersa numa paixão criminosa e irredutível.
Um conto leve que se distingue dos demais pela época e sociedade retratada. No entanto, rapidamente se transforma num final que sabe a pouco tendo em conta a magnificência descritiva e emocional do conto anterior. Ainda assim, esqueçam o modernismo e deixem-se enfeitiçar por uma mulher de grande força e poder. Há sempre uma terceira alternativa em duas opções, não concordam?

Numa última apreciação fica a vontade de descoberta, principalmente no que diz respeito às autoras estreantes, e uma algo pesada desilusão na revisão da obra por inteiro uma vez que, um pouco ao longo de todos os textos são encontrados inúmeros erros que deveriam de ter sido captados com facilidade pela pessoa responsável. De qualquer das formas, Imortais – Histórias de Amor para Cravar o Dente foi uma leitura que me permitiu desfrutar de boas e aprazíveis horas de um amor e essência vampiros leve e agradável. Uma obra divertida e sedutora que, sem dúvida, recomendo. Mais uma excelente aposta da 1001 Mundos

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