quarta-feira, 20 de julho de 2011

Hex Hall, Rachel Hawkins



Título Original: Hex Hall
Autoria: Rachel Hawkins
Editora: Gailivro
Colecção: Mil e Um Mundos
Nº. Páginas: 228
Tradução: Maria João Freire de Andrade


Sinopse:

Virei-me para sair, mas a porta fechou-se a poucos centímetros da minha cara. De repente, um vento pareceu soprar através da sala e as fotografias nas paredes chocalharam. Quando me virei de novo para as raparigas, estavam as três a sorrir, os cabelos a ondularem-lhes a volta dos rostos como se estivessem debaixo de água.
O único candeeiro da sala tremeluziu, e apagou-se. Eu apenas conseguia distinguir faixas prateadas de luz que passavam sob a pele das raparigas, como mercúrio. Até os olhos brilhavam.
Começaram a levitar, as pontas dos sapatos regulamentares de Hecate mal tocando a carpete musgosa. Agora, já não eram rainhas do baile de finalistas, nem supermodelos – eram bruxas, e até pareciam perigosas.
Apesar de me debater contra a vontade de cair de joelhos e colocar as mãos acima da cabeça, pensei, “Eu também seria capaz de fazer aquilo?”


Opinião:
  
Não sendo o melhor livro escrito até ao momento nem, tão-pouco, uma obra-prima, Hex Hall é, isso sim, uma diversão do princípio ao fim. Dotado de um humor negro muito próprio proporcionado pela perspectiva pessoal de uma protagonista sarcástica e sem receios de dizer o que pensa, Sophie Mercer, o leitor é embalado numa história tanto invulgar como, ao mesmo tempo, semelhante a muitas outras sobre a ida de uma jovem bruxa para uma escola de correcção magica onde só são aceites fadas, bruxas e mutáveis (e, muito recentemente e a título experimental, também vampiros). É esta nova abertura no quadro estudantil de Hecate Hall que desencadeia toda uma insegurança e desconfiança entre colegas professores e alunos quando, do nada, surgem ataques inesperados e indecifráveis a estudantes em que, a prova mais evidenciada é uma marca de dentada de vampiro.

O ponto alto de Hex Hall é, sem sombra de dúvida, a sua personagem principal. Sophie Mercer brinda o leitor com uma personalidade extrovertida mas não popular, auto-depreciativa mas extremamente singular, conferindo uma certa necessidade compulsiva em continuar a ler e a rir. Para quem entender as piadas respeitantes à cultura pop este será um daqueles livros imperdíveis pelo seu extenso humor e leveza narrativa. Confesso ter soltado uma valente de uma gargalhada em praticamente cada página, o que me divertiu imenso e me motivou em prosseguir na leitura.
O romance entre Sophie e o seu interesse amoroso é outra das características superficialmente positivas. Algo previsível – quantos livros deste género já não encontrámos pelo caminho? -, este sucede-se de forma gradual e sem excessos do “se estar perdidamente apaixonada e não se sobreviver sem esse amor” habitualmente encontrado noutros títulos. Ainda que, por vezes, a protagonista se deixe levar por devaneios sobre essa paixoneta involuntária que se manifesta a olhos vistos, todas as referências, além de justificadas, são em número restrito por forma a não se tornar uma repetição constante e o mote principal da história. Por isso, dentro da típica abordagem romântica cliché folheada noutros livros de igual estrutura narrativa, este até é dos melhorzinhos que li até então.
Fiquei ainda agradada com as diferentes personalidades reveladas ao longo do livro. Embora ocasionalmente um pouco ocas e estereotipadas, ou seja, desprovidas de uma certa vivacidade e originalidade, o que, em consequência, não permite um desabrochar das mesmas quando está bem claro o caminho traçado por elas a seguir, ainda assim conseguiram transparecer um pouco de interesse e sedução que, inevitavelmente e ajudado pela ironia da protagonista, cativam o leitor. No entanto, Hex Hall é um livro com muitos pontos negativos. E o primeiro surgiu imediatamente nas primeiras páginas quando um óbvio lobisomem revestido a pêlo se volta a transformar em humano e, magicamente, tem o uniforme da escola vestido e impecável! Esta é daquelas situações que adoro encontrar mas que, ao mesmo tempo, simplesmente não suporto.

Fiquei, maioritariamente, desiludida com o facto de, sendo um obra do género da fantasia urbana juvenil, com uma protagonista de peso que é uma bruxa negra, não haver uma quantidade plausível e minimamente satisfatória de magia (qualquer tipo de magia!). Estamos perante uma escola que não só ensina como serve de reformatório para aqueles que se expuseram em demasia aos humanos e a verdade é que os momentos verdadeiramente místicos são incrivelmente reduzidos. Temos uma ou duas transformações por parte dos mutáveis, uns quantos feitiçozecos simples e sem grande importância e umas fadas maldosas que adoram arrebitar as asas... e é só. Decididamente, não foi suficiente.
O tamanho da obra também não ajuda. Tendo um enredo breve para a enormidade de informação contida, é inevitável notar-se um certo descuramento no que diz respeito a algumas das explicações mais importantes (backgrounds de personagens e seres sobrenaturais, etc.) para a total – ou pelo menos melhor – compreensão, por parte do leitor, do mundo imaginário de Rachel Hawkins. E mesmo tratando-se de uma trama que se rege um pouco por cliché atrás de cliché, embora indubitavelmente humorados, uma vez que não apresenta uma originalidade por aí além, seria de esperar um maior cuidado na construção e condução da história. Ao invés, facilmente se encontra um pouco deste e daquele livro e, em última instância, nota-se uma atenção muito grande com o intelecto da protagonista de maneira a esta manter uma trama divertida e jovem mas, em relação ao desenrolar das acções em si e na forma como foram pensadas, dá a sensação de que não houve qualquer vontade em ser diferente e, assim, contempla-se um certo e desagradável descuido.
Por fim, não posso deixar de referir a linguagem. Tudo bem que se trata de uma obra juvenil e direccionada a uma camada muito específica da sociedade – ainda que um leitor mais velho também possa achar alguma piada ao conteúdo do livro – mas achei desconfortável e abusivo a utilização de alguma da gíria jovem como “Iá” e “Ei”. São adolescentes de quinze, dezasseis e dezassete anos, alguns até mais novos, mas chegou a um ponto em que o “Iá” se tornou insuportável e extremamente irritante. De resto, foi das escritas mais suaves e acessíveis que encontrei.

Este pode não ser o melhor livro da história da literatura mas, não há dúvidas, de que Hex Hall tem uma narrativa divertida, energética e humorística e que, acima de tudo, é capaz de proporcionar muitos e bons momentos de leitura agradável e descontraída. Com Vidro Demónio já nas bancas e uma série de reviravoltas nas suposições e dados adquiridos como certos, com certeza será uma continuação a não perder... nem que seja para se tentar encontrar algumas das respostas às inúmeras questões deixadas em aberto. Dentro do género e do até então descoberto por mim, Hex Hall foi das leituras que, no final de contas, mais me agradou e motivou a continuar. 

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